Os sonhos são a chave para um universo que nos convida a olhar para dentro de nós mesmos. Ele está repleto de simbolismos, que muitas vezes nos mobiliza e nos conduz a um caminho, como um chamado em direção às partes mais profundas de nossa alma. Para a Psicologia Junguiana, “os sonhos não apenas revelam a causa básica da desarmonia interior e da angústia emocional, como também indicam o potencial de vida latente no indivíduo”(Von Franz).
Quantas e quantas vezes nos intrigamos com sonhos repetitivos? O inconsciente não cansa de nos chamar para olhar algum assunto pendente em nossa vida. Quando paramos para analisar este fenômeno, automaticamente iniciamos a montagem de um quebra-cabeça, e as peças começam a ser identificadas, separadas e reorganizadas. Aos poucos as imagens começam a ganhar forma, e iniciamos um processo de reflexão e conscientização de outras partes do nosso ser. Percebemos assim, que as respostas estavam dentro da gente o tempo todo.
Mas esta não é uma tarefa fácil. As imagens oníricas são muitas vezes complexas e sombrias. Como num conto de fadas, passamos por lugares dentro da floresta escura e encontramos várias imagens temidas ou situações desagradáveis. Porém, ao iluminarmos a escuridão, podemos finalmente verificar onde está o nó que está impedindo a energia vital fluir livremente.
O potencial transformador do trabalho com os sonhos é impressionante. E o melhor de tudo, o sonho é único, só seu. É parte genuína de sua existência. Ele é a chave para as respostas que procuramos há muito tempo…
Como funciona o trabalho com os sonhos?
A análise dos sonhos educa a pessoa a ouvir sua voz interior. Ao anotar seus sonhos diariamente, mesmo parecendo cenas desconectadas ou sem sentido, o cliente inicia um compromisso consigo mesmo. Anotar o sonho e conta-lo, também faz parte do processo. Ao relatar o sonho, o cliente já faz automaticamente algumas associações, e assim outras imagens começam a surgir para complementar o diálogo entre o consciente e o inconsciente.
Vou dar o exemplo de um sonho pessoal, para não expor os casos de meus clientes: houve um momento em minha vida que vivi uma grande crise existencial, e então comecei a questionar minhas escolhas. Neste período, sonhei que estava no alto de uma montanha e uma ponte muito estreita ligava esta montanha a outra. O lugar era bem alto. Eu estava de bicicleta, e um homem raivoso estava atrás de mim, obrigando-me a atravessar a ponte. Mesmo com medo, atravessei, e ao chegar na outra montanha o homem dirigiu-se calmamente para outro lugar. Deparei-me com um lugar bonito e florido, havia um grande mercado com frutas frescas e comidas apetitosas. Andei pelo mercado maravilhada com tantas cores e aromas.
Analisando este sonho, podemos dizer que o homem raivoso era uma parte da minha alma que me pressionava a fazer a “grande travessia”. Atravessar a ponte estreita causa um grande medo, mas já era hora de passar por este desafio. A bicicleta é um veiculo solitário, e esta travessia tinha mesmo que ser feita sozinha. Nesta outra montanha havia uma fartura de alimentos, aromas e beleza. Era o momento de tentar ir para um lugar melhor, onde eu pudesse usufruir das outras coisas da vida. Este sonho impulsionou-me a lutar por mim mesma. Como podem ver, os sonhos mobilizam nossas idéias e atitudes. Nos impulsiona a buscar novas soluções para velhos problemas.